Mudando os paradigmas da memória coletiva: a história do Memorial do Holocausto Babyn Yar

Babyn Yar, uma ravina na capital ucraniana Kiev, testemunhou a morte de mais de 33.000 homens, mulheres e crianças judeus, em 29 e 30 de setembro de 1941. Local de um dos maiores massacres perpetrados por tropas alemãs de ocupação contra judeus durante a Segunda Guerra Mundial, Babyn Yar tornou-se um dos símbolos do Holocausto.

Embora o principal evento trágico tenha ocorrido em 1941, durante toda a ocupação o espaço foi utilizado como local de extermínio pelas forças alemãs. Com efeito, entre 70 e 100 mil pessoas perderam suas vidas em Babyn Yar. Sem uma arquitetura destinada à tragédia e apenas uma paisagem remanescente, não há espaço de memorialização para o reconhecimento público.

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Ignorado muitas vezes, o local foi completamente modificado ao longo dos anos: ao recuar, os soldados alemães queimaram os corpos, na esperança de não deixar vestígios físicos. Novas construções substituíram estruturas históricas, deslizamentos de terra aconteciam com frequência e, eventualmente, um parque público de 132 hectares acabou cobrindo toda a área. O que antes era nos arredores da cidade, tornou-se parte integrante de Kiev. Considerado também uma imagem de resistência à ocupação soviética, o primeiro reconhecimento público dos trágicos acontecimentos de Bayn Yar ocorreu em setembro de 1991, 50 anos após a calamidade e 1 mês após a independência da Ucrânia da União Soviética. Embora o local abrigasse memoriais tradicionais individuais de pequena escala, era difícil lembrar a tragédia em sua verdadeira escala, com a ausência de vestígios arquitetônicos.

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Terreno Geral. Imagem Cortesia de BYHMC
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Terreno Geral. Imagem Cortesia de BYHMC

Buscando abordar a história desta área e fixar a narrativa do "Holocaust by Bullets", a Fundação do Babyn Yar foi criada em 2016 para apoiar o BYHMC - the Babyn Yar Holocaust Memorial Center. Em 2019, a organização lançou seu primeiro concurso de arquitetura, com um briefing muito rígido e detalhado. Levando a um projeto cujas ambições conceituais foram realmente condicionadas pelo programa, o concurso reconheceu, então, que o resultado final não poderia se parecer com qualquer projeto típico, localizado em qualquer lugar do mundo. Trazendo a bordo o diretor artístico Ilya Khrzhanovsky, um diretor de cinema russo, o comitê decidiu coletivamente mudar as abordagens, a fim de reconhecer o potencial do terreno. Agindo e pensando na escala do próprio Babyn Yar, cerca de um ano depois, Nick Axel juntou-se à equipe para orientar o Conselho de Arquitetura do Memorial e trazer as pessoas mais criativas da região para discutir e refletir sobre "como criar um memorial neste terreno de 132 hectares".

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Brick and Mud / Oleh Shovenko. Image Courtesy of BYHMC
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A Glimpse Into the Past / Anna Kamyshan. Image Courtesy of BYHMC

Com uma nova visão e nova ambição, o projeto procurou estabelecer uma experiência envolvente e pessoal, relacionada com os movimentos das pessoas pelo local. Basicamente transformando o espaço natural em um memorial, o primeiro passo foi imaginar “um lugar para onde as pessoas vão querer voltar”, com diferentes intervenções arquitetônicas e artísticas. “Não há uma história para Babyn Yar, há pelo menos 100.000 histórias para Bayn Yar. Há pelo menos uma história para cada pessoa que morreu lá”, explica Nick Axel. Considerando que é fundamental não limitar a narrativa, o projeto não poderia ficar restrito a um único museu. Universalmente significativa, a história de Babyn Yar lembra não apenas a violência que ocorreu em seu território, mas também toda a violência que ocorre em todo o mundo. Como um lugar de vida, o parque público procura memorar a morte enquanto gera conexões significativas entre o passado e o futuro compartilhados.

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Crystal Wall of Crying por Marina Abramovic. Imagem Cortesia de BYHMC

Esperando que Babyn Yar seja reconhecido como um dos principais memoriais do Holocausto, a colaboração público-privada construiu 3 intervenções principais até agora: The Mirror Field Installation, a Babyn Yar Synagogue de Manuel Herz e a Crystal Wall of Crying de Marina Abramovic. Criando novos entendimentos e conexões entre o aqui e o agora, os projetos baseados na localização abordaram experiências metafísicas, refletindo sobre limitações e trazendo novas formas de se envolver com a história.

A Instalação Mirror Field foi a primeira intervenção feita pela fundação no local. Projetada e construída em 6 semanas, estabeleceu os padrões estéticos e definiu as expectativas futuras. Susceptível de ser uma intervenção temporária, situa-se atualmente no local de um dos futuros museus principais. Gerando uma dimensão sonora, esta instalação atrai as pessoas, comunicando um nível mais profundo da história a ser contada. Além disso, a Sinagoga Babyn Yar concebida por Manuel Herz foi o primeiro elemento arquitetônico no local. Reconhecendo o aspecto espiritual, a razão de ser da tragédia, o projeto, um livro pop-up do tamanho de um prédio construído em 5 meses, recria conexões, trazendo de volta a prática para Babyn Yar.

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The Mirror Field Installation. Imagem Cortesia de BYHMC
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Babyn Yar Synagogue por Manuel Herz, imagem por Iwan Baan. Imagem Cortesia de BYHMC

Planejando quatro museus (incluindo o primeiro museu contemporâneo do Holocausto na Europa Oriental), seis entradas, inúmeros memoriais, intervenções artísticas, centros de pesquisa, bibliotecas e arquivos, o BYHMC tem atualmente dois projetos em desenvolvimento: o "Kurgan" ou o Museum of the History of the Tragedy, idealizado pela SUB e o Museum of History of Oblivion, pela OFFPOLINN - Office for Political Innovation. Uma vez concluído, o "Kurgan" será o primeiro museu no local. Reinterpretando a forma tradicional de um Kurgan, um túmulo pré-histórico encontrado na região, o projeto é uma estrutura programada para inaugurar em abril deste ano. Por outro lado, o Museum of History of Oblivion, em fase de desenvolvimento, é um projeto de reforma do antigo prédio de escritórios do cemitério judaico. O projeto radical e arrojado propõe a remoção do telhado da estrutura existente, a fim de criar uma plataforma de visualização que reconheça uma nova perspectiva.

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"Kurgan" do Museum of the History of the Tragedy, por SUB. Imagem Cortesia de BYHMC
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Museum of History of Oblivion, por OFFPOLINN. Imagem Cortesia de BYHMC

Enquanto essas adições estão mudando a percepção de Babyn Yar e as ambições da BYHMC estão crescendo, a fundação reconheceu a necessidade de uma estrutura conceitual geral para permitir um envolvimento com o terreno. Um novo concurso, aberto a todos busca, de fato, desenvolver um plano que “traga os diferentes projetos do Memorial em uma estrutura holística fundados em uma experiência pluralista do local”.

Uma evolução natural para a discussão, o plano diretor irá gerar uma estrutura orientadora, tanto no nível físico quanto no metafísico. Compreendendo Babyn Yar como um todo, mantendo sua heterogeneidade, o projeto busca traçar sua própria maneira de interagir com o local, trazendo para a área e para a cidade de Kiev, um organismo nunca visto antes que inspira novas formas de pensar.

O Babyn Yar Holocaust Memorial Center (BYHMC) busca projetos ousados para estruturar e orientar o desenvolvimento do terreno de 132 hectares de Babyn Yar, Kiev, símbolo internacional do "Holocaust by Bullets". A competição está aberta a estudantes, jovens profissionais e práticas estabelecidas de arquitetura, arte, coreografia, filosofia, ciência e muito mais. Para participar deste concurso aberto, registe-se e envie a sua proposta até 15 de maio de 2022.

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Sobre este autor
Cita: Harrouk, Christele. "Mudando os paradigmas da memória coletiva: a história do Memorial do Holocausto Babyn Yar" [Changing the Paradigms of Memorialization: the Ongoing Story Behind the Babyn Yar Holocaust Memorial Center] 20 Mar 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/977148/mudando-os-paradigmas-da-memoria-coletiva-a-historia-do-memorial-do-holocausto-babyn-yar> ISSN 0719-8906

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